Elson Pereira Magalhães

Elson Pereira Magalhães

Elson Magalhães, já Chefe de Grupo, tirando a Promessa Escoteira de um jovem em 1978.

“Entrei no Grupo aos 16 anos, por inspiração de dois amigos, o Edson Mizukawa e o João Ângelo Belotto. A sede era no SESC. Entrei, mas demorei um ano para poder fazer minha promessa, pois não havia chefes adultos para coordenarem as atividades naquele ano, em 1968. Quem segurava as pontas do Grupo, que tinha uma estrutura mínima de escoteiros e sêniores, era o Napoleão Chiamulera. Logo após a minha entrada, houve um pequeno aumento no número de jovens no Grupo, mas ainda assim faltavam adultos. E o SESC começou a pressionar, pois para eles o Grupo não podia funcionar sem chefia.

Nessa época alguns pais emprestaram seu nome para constar dos documentos oficiais, ainda que não participassem das atividades. E um dos adultos que me impressionou pelo exemplo foi o Sérgio Almeida Garret, que me deu um grande apoio e acabou sendo meu instrutor nas questões de chefia. Foi ele quem convocou a Patrulha da Esperança e nos mostrou o processo educacional por trás das atividades. A partir desse momento nós fomos buscar os chefes de que precisávamos e o Grupo voltou a crescer. Foi ele também que, ainda na fase do SESC, fez o Santos Dumont se ligar à Unicef (órgão das Nações Unidas para a Infância e a Adolescência), em um programa que depois se tornaria o Criança Esperança. Vendíamos cartões de Natal e uma parte da renda ficava para o Grupo.

Eu acabei virando chefe bem cedo, antes mesmo dos 18 anos. Me lembro que na primeira reunião de pais que fiz, eles olharam minha cara de piá e foram embora. Foi ali que decidi deixar a barba crescer para parecer mais velho. Reconvoquei a reunião e deu tudo certo. Um desafio nosso àquela época era a questão do treinamento da modalidade do ar. O Mauro Alberti foi o primeiro pioneiro que participou de um Curso Técnico da Modalidade do Ar (Catar), e isso já era em meados dos anos 70, o Grupo estava no Thalia. Felizmente perto da Fazenda Thalia tinha uma pista de pouso e pai de um lobinho, o senhor Egon Schrappe, tinha um planador, que ele cedia para as nossas atividades e instruções.

Desde o início como escotista eu sabia que tinha que motivar os pais para que eles apoiassem o Grupo. Um bom pedaço do meu trabalho era fazer os pais entenderem que era importante paras seus filhos eles estarem próximos. Fiz uma conta que mostrava que quanto mais tempo a criança ficava no escotismo, melhor ela se desenvolvia na escola. E os pais começaram a sentir a presença do escotismo em muitos momentos fora das atividades. Eu sempre visitei as casas dos meus escoteiros, fazia parte da minha rotina de chefe. Foi graças a essa participação que conseguimos ir para a Sociedade Thalia quando tivemos que deixar o SESC, graças a um pai que era da nossa Comissão Executiva e sócio de lá. Quando tivemos que sair do Thalia, desenhei o Projeto Impulso, de crescimento e estruturação do grupo, que acredito tenha dado resultados.

No fim das contas, eu me envolvi tanto que participei de diversos movimentos dentro do Escotismo. O Clube da Flor de Lis como o conhecemos hoje nasceu do antigo Círculo de Antigos Escoteiros, que eu pedi autorização para a União dos Escoteiros do Brasil criar. Eles não deram a permissão, mas as bases do futuro CFL foram lançadas ali. Lancei a proposta de permitir que mulheres pudessem ser Chefes de Grupo, o equivalente ao cargo de diretor presidente hoje. Integrei a comissão que nos anos 70 pretendeu integrar o Bandeirantismo ao Escotismo, como já havia acontecido no Chile. A proposta foi até a sede do escotismo mundial na Suíça mas não prosperou. Participei ativamente dentro da Região e ajudei a criar algo entre 10 e 15 novos grupos escoteiros.

Para mim, o escotismo deu as bases para a vida. Isso porque ele é um método direto que incentiva o jovem a assumir o seu próprio desenvolvimento, a fazer as suas escolhas, a decidir, a trabalhar em equipe e, junto com tudo isso, dá uma formação moral. Muita coisa mudou. Hoje eu coordeno a Ação Social Edison Magalhães, nome do meu irmão, que se dedica a ajudar a formação das famílias do bairro do Guarituba, em Piraquara. Na prática, é uma continuação do trabalho que eu comecei no escotismo, de trabalhar pela educação e de ajudar o próximo”.