Sérgio Frantz

Sérgio Frantz

Sérgio Frantz é o segundo da esquerda para a direita, de boina no fundo da foto.

“Meu pai era aeronauta no Rio Grande do Sul e, em 1958, nós nos mudamos para Curitiba, ele iria servir na unidade que depois seria o Cindacta. Como a vila dos suboficiais não estava pronta ainda, nos instalamos em uma casa na frente de onde é a Base Aérea hoje. Minha família foi a segunda a se instalar na vila quando ela ficou pronta. Não me lembro direito, mas acredito que a decisão de entrar no escotismo foi tomada pela minha mãe. Ela era muito religiosa e, como a formação do grupo estava a cargo do Capelão Euvaldo, ela deve ter me inscrito entre aqueles primeiros jovens. E como eu era muito arteiro e adorava aventuras, gostei da ideia.

Fui o primeiro monitor da patrulha Gavião, mesmo com 10 anos, pois eu já era bem alto para a minha idade. Os primeiros acampamentos eram perto de Curitiba, que à época ainda era pouco habitada. Me lembro de um que fizemos perto do aeroporto de São José dos Pinhais. Fomos até lá em uma carroceria de caminhão, em uma chácara meio abandonada de alguém que o capelão conhecia. Quando fomos dormir, a barraca era curta para a minha altura, e eu me encolhi para ficar inteiro coberto. Mas durante o sono eu relaxei e me estiquei e meus pés ficaram ao descoberto. Infelizmente choveu, e acordei com os pés encharcados. No dia seguinte, esperávamos alguém vir nos buscar ao redor do meio dia, mas ninguém veio no horário. A fome da patrulha foi aumentando e não tínhamos nos preparado para mais uma refeição. O que nos salvou foi um farnelzinho que minha mãe havia colocado na minha mochila, com um pão e umas três linguiças. Fizemos um fogo, peguei uma panela e cozinhei arroz com essas linguiças. Foi a única vez que fui para a cozinha, e salvou o dia da patrulha. Sei que voltamos por conta própria, andando do local do acampamento até um ponto de ônibus em São José dos Pinhais, e depois para Curitiba. Chegamos em casa de noite, com fome, mas vivos.

Quando me tornei pai, estimulei meus três filhos – duas meninas e um rapaz – a serem escoteiros. Acredito que o aspecto de disciplina e organização são lições fundamentais que o escotismo ensina para a vida. E, claro, o espírito de servir também é muito importante. Foi uma boa época.”